terça-feira, 10 de outubro de 2017

Oficina de Roteiro com Mulheres Negras


De 27 de setembro a 15 de outubro, estão abertas as inscrições para o processo seletivo no site

Fonte: Mulheres Negras no Áudio Visual Brasileiro

Um dos mais importantes consultores de roteiro da América Latina, o escritor cubano Eliseo Altunaga, parceiro de Pablo Larrain (Tony Manero, Neruda, No) e Andrés Wood (Machuca, Violeta Foi Para o Céu) estará em São Paulo em novembro para ministrar uma Oficina de Roteiro e uma Masterclass no Espaço Itaú de Cinema Augusta. A ação é uma parceria entre o Espaço Itaú de Cinema e o site Mulheres Negras no Audiovisual Brasileiro.

A partir das inscrições, que vão de 27 de setembro a 15 de outubro, serão selecionadas 15 realizadoras negras de vários locais do país, que trarão argumentos a serem trabalhados em aulas práticas e teóricas conduzidas pelo escritor, proporcionando diálogos e reflexões que gerem ferramentas para o desenvolvimento de estruturas narrativas e personagens, para a escrita dos roteiros e para o futuro desenvolvimento de projetos audiovisuais no formato de curta-metragem.
Dados recentes sobre a participação de mulheres no audiovisual coletados pela ANCINE (Agência Nacional do Cinema) mostram que um país com 51% de mulheres, há apenas 19% nos cargos de direção e 23% em roteiro. Esses dados já são alarmantes, mas quando relacionados à questão racial, a situação se mostra ainda mais grave. Ainda que a população negra brasileira seja de aproximadamente 53%, o cinema não mostra esse cenário. A presença de pessoas negras nos filmes, séries, novelas, etc, ainda é muito baixa e insuficiente. Tanto em relação à representação na frente das telas, quanto nas equipes atrás das telas.

Em pesquisa realizada em 2014, o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa) da UERJ, buscou traçar o perfil de gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos longas-metragens brasileiros de maior bilheteria entre 2002 e 2012. O resultado mostrou que nosso cinema ainda é branco e masculino tanto dentro como fora das telas. Dos 218 longas-metragens analisados, 86,3% foram dirigidos por homens, sendo que do percentual restante de 13,7% de mulheres diretoras, não há qualquer mulher negra, seja preta ou parda. Além disso, as mulheres negras representam apenas 4,4% das personagens dos filmes. A pesquisa mostra ainda que do universo de 412 roteiristas envolvidos nesses mesmos filmes, somente 26% eram mulheres e, novamente, nenhuma roteirista negra.

Levando em consideração que esses filmes foram os mais vistos pela população, como é possível, em um país de maioria negra, a completa ausência de mulheres negras como diretoras e roteiristas?
A predominância dessa maioria de homens brancos, enquanto realizadores, pode produzir um cinema que reafirma seus valores de gênero e raça e tende a difundir estereótipos e representações inadequadas dos demais grupos sociais, restringindo-os a funções subalternas e submissas. Além disso, tornam invisíveis aspectos culturais e identitários. Muitas vezes, essa ainda é a única voz e forma de representação que é acessível para a maior parte da população.

E qual é o custo disso?
Os meios audiovisuais tendem a dar legitimidade à desigualdade e ao preconceito, justificando e naturalizando as violências físicas e simbólicas praticadas contra diferentes grupos, entre eles as mulheres negras.

O cinema e a televisão são meios que ajudam a formar a percepção das pessoas sobre o mundo e sobre elas mesmas. Quando uma pessoa negra vê um personagem negro de uma forma complexa, aprofundada, com sonhos e realizações, isso influencia diretamente em sua autoestima, ampliando possibilidades, caminhos e vontade de lutar por igualdade de oportunidades e por direitos. A representatividade importa porque tem um enorme poder de multiplicar as vozes que compõem o nosso imaginário. A ampliação da representatividade negra, garantindo uma maior diversidade de representações fortalece a democracia e enriquece o repertório de todos, independente da raça/etnia.

Nesse contexto, surge a Oficina de Roteiro com o roteirista e escritor cubano Eliseo Altunaga que ocorrerá entre os dias 02 e 05 de novembro. Ela nasceu do desejo de fortalecer roteiristas negras brasileiras e suas narrativas autorais.

Para se inscrever para o processo seletivo, leia o Regulamento e preencha o Formulário de inscrição com seus dados, argumento e carta de intenções. Em caso de dúvidas, consulte o regulamento. Das 15 vagas, oito serão destinadas a realizadoras residentes fora de São Paulo, que terão passagem e hospedagem pagas pela oficina. Crianças são bem-vindas para acompanharem suas mães ou cuidadoras nas atividades da oficina.

Eliseo Altunaga também fará uma Masterclass, aberta ao público em geral, que abordará a construção do relato e dos pontos de vista narrativos dialogando com questões de gênero e raça, na qual serão tratados de forma mais resumida alguns dos temas desenvolvidos ao longo do curso. A Masterclass ocorrerá no dia 6 de novembro, na sala 1 do Espaço Itaú Augusta, às 20h.

Eliseo Altunaga
Roteirista, consultor e escritor cubano de 76 anos, Eliseo Altunaga é Decano no Departamento de Roteiro da Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños (EICTV), Cuba, e nos últimos dez anos vem assessorando e co-roteirizando importantes filmes da retomada do cinema chileno, em parcerias com Pablo Larraín (Tony Manero, Postmortem, Neruda e NO - nomeado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro) e Andres Wood (Machuca, Violeta Foi Para o Céu, nomeada ao premio Goya e Melhor Filme Internacional en Sundance). Escreveu roteiros para longa-metragens, telefilmes, séries de TV, programas para a Rádio Cubana, além de haver publicado 8 romances. Professor Titular da Universidade de Arte (ISA), no Departamento de Dramaturgia e Roteiro da Faculdade de Arte, Mídia e Comunicação Audiovisual de Havana, também ministra oficinas e conferências pela América Latina e Europa.

Cronograma
  • 27/09 a 15/10 - Inscrições para a oficina. Leia o Regulamento.
  • 23/10 - Resultado da seleção da oficina
  • 02 a 05/11 das 9h às 15h - Oficina com Eliseo Altunaga no Espaço Itaú Augusta | Anexo - para as realizadoras selecionadas
  • 06/11 às 20h - Masterclass com Eliseo Altunaga no Espaço Itaú Augusta | Sala 1 - aberta ao público com retirada de ingressos uma hora antes.

Parceria
Espaço Itaú de Cinema
Mulheres Negras no Audiovisual Brasileiro

Apoio institucional
Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro (APAN)
BrLab – Laboratório de Desenvolvimentos de Projetos no Brasil
Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo
Spcine

Produção
NOIX CULTURA


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