terça-feira, 15 de março de 2022

4 Anos de Terror: Sem respostas, sem justiça por Marielle Franco e Anderson Gomes


 

“Em junho, num encontro do Movimento Negro da Baixada Fluminense, justamente a respeito da violência policial, foram apresentados os seguintes dados a respeito dos corpos de “justiçados” que deram entrada no Instituto Médico Legal de Nova Iguaçu, no período entre 01/01 a 31/01: 305 brancos, 635 negros e 170 não identificados. E todos sabem que uma verdadeira guerra de extermínio instaurou-se de 15 de março pra cá e da qual nem nossas crianças negras escapam.”

Lélia Gonzalez, “O Terror Nosso de Cada dia”, 1987.

 

Ontem fez 4 anos de Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados no Rio de Janeiro. Nesses últimos 4 anos, além de clamar por justiça e pelo indiciamento dos mandantes desses assassinatos, temos nos mobilizado e exasperado pela certeza de que esse fato não é um evento isolado. O assassinato brutal de dois trabalhadores brasileiros, sendo um deles uma parlamentar negra do Rio de Janeiro, se somou a um conjunto de razões para vigilância e preocupação de diversos movimentos negros, de direitos humanos e mulheres.

Temos trabalhado incessantemente pela investigação efetiva desse assassinato. Outra estratégia de luta de diversos militantes e intelectuais negros foi o apoio profundo a candidaturas negras com o perfil de Marielle Franco: mulheres negras defensoras de pautas das agendas dos direitos humanos, antirracismo e feministas. Desde 2018, o Nosso Coletivo Negro do DF priorizou esse tipo de ação, como resposta ao terror que esse assassinato representou. Temos nos mobilizado em prol de canditadas e candidatas negras com uma agenda anti-racista, pelos direitos das mulheres negras e direitos humanos. Assim como Marielle Franco afirmava, não formos silenciadas. Porém, continuamos muito vulneráveis a grupos paramilitares que dominam diversos estados brasileiros.

Esse modelo de controle paralelo do território, elaborado por anos no Rio de Janeiro, que se consolidou com a milícia, está sendo replicado por todo o país. Em vários estados, os agentes do estado sabem da existência e atuação desses grupos, mas ora são coniventes, participantes, ou displicentes em coibir, investigar e interromper a atuação das milícias.Essa inação tem nos poderes judiciário, legislativo e executivo grandes aliados.

Nesse sentido, somos inspiradas e assombradas pela repetição dos mesmos padrões de ameaças, discurso de ódio, assassinatos de reputações, homicídios e grupos de extermínio em ação diuturnamente, sem barreiras no país. Temos acompanhado parlamentares negras mulheres resistirem a ameaças, tentativas de assassinatos e um desrespeito contínuo, mesmo nas casas legislativas nas quais elas são legítimas representantes da população.

Ao mesmo tempo em que nos colocamos como ativistas para que mais e mais mulheres negras como Marielle Franco sejam representadas, respeitadas e tenham condições de exercer o seu papel político, apontamos para a centralidade da agenda do enfrentamento às milícias, a falta de investigação de assassinatos no Brasil, especialmente quando envolvem policiais. Essa agenda é central para que, efetivamente, casos como o de Marielle não continuam a se repetir a cada 23 minutos no Brasil.  

 

Elaborado por Dalila Negreiros com a colaboração de Janaína Bittencourt

 

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