quarta-feira, 14 de outubro de 2015

JUSTIÇA TEM SANGUE?


Esta semana (13/10) o Ministério da Justiça divulgou uma peça publicitária da Campanha “Brasil: A Imigração está no nosso sangue”. Trata-se da imagem de um belo jovem negro com a seguinte legenda: “Meu avô é angolano meu pai é ganês. Brasil a imigração está no nosso Sangue. Há cinco séculos, imigrantes de todas as partes do mundo ajudam a construir nosso país."








A primeira reação de qualquer um que vê uma pessoa negra se dizendo descendente de africanos na campanha é pensar: o MJ está comparando escravidão à imigração? Que imigração é essa que está no sangue? Estão falando dos estupros de meninas e mulheres negras que está no sangue de seus descendentes?



Então você entra no site da campanha e sim, é isso que está sendo dito: "Desde a chegada dos primeiros portugueses, em 1500, o Brasil tem recebido pessoas de todos os continentes, o que nos torna um dos povos mais plurais do planeta.(...) Muitos brasileiros têm famílias formadas por pessoas que migraram de outro lugar para cá: pai, avó, bisavô, tataravó... Essas pessoas, junto com os povos indígenas que aqui estavam, ajudaram a construir o Brasil."



Se imigração fosse equivalente à escravização; chegada fosse equivalente a assalto; ajuda a trabalho forçado e “junto com os povos indígenas” equivalente a etnocídio, não haveria nenhum problema com a campanha do governo brasileiro. 



Mas há tantos erros que fica difícil identificar que o mesmo país que considera racismo hediondo, ignora aspectos retumbantes de sua história ou até mesmo trajetórias de políticas públicas, numa peça publicitária desastrosa. 



A premissa da condição de equivalência e igualdade entre os povos que aqui chegaram ou mesmo que aqui estavam na “construção” do país é algo há muito superado na historiografia. Aqui chegaram diversos povos em condições diferentes com consequências ainda não transpostas a pessoas negras e povos indígenas. 



A celebração da miscigenação para a população negra é a retificação da violência. O que está no nosso sangue são as consequências de abusos, estupros, coerção e diversas estratégias de um projeto genocida que teve na imigração europeia um de suas principais estratégias de branqueamento. 



Desde ontem a campanha tem recebido diversas críticas no facebook do Ministério da Justiça, que tem respondido com o mesmo texto de agradecimento, informando que o foco da campanha é a xenofobia, e que o Ministério assim como o governo é contra o racismo.

Como é se posicionar contra o racimo realizando uma campanha contra a xenofobia com um modelo negro sem mencionar racismo? Como o Brasil vai combater xenofobia sem diálogo com racismo? Imigrantes de diferentes nacionalidades são igualmente discriminados?



Alguns dos principais casos recentes de xenofobia no país não por acaso tem ocorrido com pessoas negras de diversas nacionalidades: haitianas, cubanas, senegalesas. Entre os casos há tentativa de homicídio, xingamentos, perseguição e atiramento de bananas. Ser comparado a um macaco deve ser certamente uma experiência vivida por imigrantes de diversas nacionalidades...



Talvez para o Ministério da Justiça, celebrar a imigração seja combater a xenofobia e estampar uma pessoa negra em suas campanhas seja combater o racismo. Assim como dizer que o “governo é contra o racismo” seja a resposta para perguntas que não querem se calar:

Quantos negros o MJ tem em seus quadros para analisarem essa campanha? Que pluralidade é essa que não oportuniza a escuta? O MJ considerou a experiência das pessoas negras ao elaborar ao aprovar essas peças publicitárias? Essa campanha foi feita em diálogo com áreas que trabalham a questão do racismo no governo federal? 

Fato é que, se imigração está no sangue, essa campanha vai permitir que o nosso continue a jorrar sob os olhos da justiça. 



* Texto de Dalila F. Negreiros,  militante do Nosso Coletivo Negro, Servidora Pública e Mestre em Desenvolvimento e Políticas Públicas pela Fiocruz. 



* Publicação gerada por celular





terça-feira, 13 de outubro de 2015

Carta Aberta em Defesa do Conselho dos Direitos do Negro do DF e das Políticas de Promoção de Igualdade Racial

Nós, conselheiras e conselheiros representantes da sociedade civil no Conselho dos Direitos do Negro do DF – CDDN, vimos solicitar ao governador - e alertar a sociedade da necessidade – a manutenção da estrutura das políticas de promoção de igualdade racial no mandado do Governador Rollemberg.

Quando assumiu, o Governador Rollemberg reduziu a estrutura da antiga SEPIR-DF e aglutinou as secretarias de Mulheres, Direitos Humanos e Igualdade Racial. Agora, em mais uma reforma administrativa, a estrutura dessa Secretaria está ameaçada pela conjuntura.
Sr. Governador, se comprometer com uma temática é efetivamente envidar esforços para que haja um mínimo de estrutura de trabalho. Senão tal compromisso é meramente retórico sem nenhum efeito prático.

O DF realizou em 2013 sua Conferencia de Igualdade Racial com ampla participação dos movimentos negros, culturais, de matriz africana, hip hop, dentre diversos outros. A população tem dado a sua contribuição. O governo tem que fazer a sua parte e além de manter seus compromissos, honrar com os compromissos nacionais e internacionais em busca de uma sociedade mais justa e mais igual.
Manter a promoção da igualdade racial na estrutura administrativa com recursos humanos e financeiros é condição essencial para a correção das graves distorções entre pessoas negras e não negras no DF que encontra na sua realidade cotidiana inúmeras denúncias de racismo, genocídio da juventude negra, dificuldade de acesso à saúde para população negra, educação não condizente com a LDB no que se refere à história africana e afro-brasileira, desemprego estrutura da juventude negra, dentre tantas outras mazelas.

A sociedade civil está alerta e vigilante!

Chega de perdas para as pessoas negras do DF!

Pela manutenção e ampliação das políticas de igualdade racial!

Assinamos,

- Conselheiras e conselheiros representantes do movimento negro no Conselho de Defesa dos Direitos dos Negros do DF – CDDN/DF
-  Centro de Referência do Negro (CERNEGRO/DF)
-           Afroatitude - UnB
-           Aquilombando DFE
-     Caligrafia Mardita Crew (Ceilândia-DF)
- Coletivo de Entidades Negras (CEN/DF)
-        Coletivo Pretas Candangas
-        DF em Movimento
-        GEAC - UnB
-        Ktia Costumizações (Ceilândia-DF)
-        MADEB Afrodescendente (Gama-DF)
-        Parada Rock (Ceilândia-DF)
- Projeto Cultural Moverments (Ceilândia-DF)
-    Seven Design (Ceilândia-DF)

7ª Edição do Nosso Jornal

Em 2002, quando cantavam as estrofes do samba “Moleque Atrevido” de Jorge Aragão a capela no anfiteatro 09 para uma plateia de estudantes ne...