sábado, 17 de março de 2018

Nota do Nosso Coletivo Negro Sobre a Execução de Marielle Franco

Juntamente com diversas organizações e indivíduos, viemos a público expressar nossa tristeza, preocupação e revolta pela execução da Vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes no dia 14 de março de 2018.

Muitos grupos têm colocado a morte da Parlamentar dentro de uma linha histórica interminável de execução de pessoas negras pela polícia. Outras pessoas têm feito a relação com outras execuções de candidatos e candidatas a cargos políticos, principalmente no Rio de Janeiro. Poderíamos também contextualizar na morte de diversos candidatos e candidatas a vereadoras quilombolas em comunidades rurais. 

O fato de ser uma mulher negra foi determinante para a morte de Marielle Franco. Porém também ela foi assassinada pelo que ela representava para todos nós, por ser uma vereadora eleita e muito bem votada, por defender direitos humanos, por combater o extermínio da população negra e a exclusão de mulheres negras nas ruas, becos e vielas do Rio de Janeiro, por se opor a uma política de segurança feita para retirar direitos de pessoas pobres.

Essa morte foi pensada para ser uma punição exemplar a quem, como Marielle, tenta desafiar o sequestro dos direitos e da cidadania de cidades como o Rio de Janeiro.  Essa morte foi pensada para ser recado a toda e qualquer pessoa negra, especialmente mulheres e meninas de comunidades periféricas que ousam se engajar na política de forma não subserviente a hegemonia de exclusão social. Uma sinalização torpe de que Política não é para elas, mulheres pretas e conscientes, e que nada adianta a luta contra o sistema racista do capital raivoso. 

Porém, nós negros sabemos que nascer negra é viver em perigo no Brasil. Então, escolhemos morrer lutando. Assim, além de reforçar o que vários grupos têm pedido em relação a uma investigação imparcial, isenta e independente da morte de Marielle Franco, queremos chamar a atenção para o fato que quaisquer que sejam as pessoas que efetuaram os disparos (se é que serão os verdadeiros autores serão arrolados como réus), essa execução joga ainda mais sangue sobre o estado do Rio de Janeiro e sua política de “segurança pública”, a “democracia” Brasileira e a intervenção militar.

Não nos intimidaremos e não nos calaremos diante de mais essa brutalidade. 
Por Marielle, por Claúdia Ferreira, por Amarildo, por DG, pelos jovens de Cabula (Salvador-BA), pelos nossos familiares e amigos que foram alvejados pelo estado policial de ótica racista, por todxs as negras e negros desse país, exigimos justiça!



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