Por: Ana Lúcia Valente* - 29/11/2011
Essa frase foi dirigida a um motorista que me acompanharia num trabalho de campo, com alunos da disciplina Extensão Rural, no estacionamento do ICC Sul, da UnB, dia 27 de outubro.
Manifestação racista, que incomodou o agredido, e, assim, caracterizou crime de injúria, o que deveria ter demandado a presença de policiais, caso não estivessem paralisados.
Na condição de docente da instituição, coordenadora da atividade externa de ensino; em razão de meu currículo e da minha ascendência étnica, me senti também insultada pela clara discriminação racial e no dever de pedir a identificação ao agressor.
Mas como anda virando moda, cada vez menos alunos têm capacidade de reconhecer seus professores como autoridades, legitimamente constituídas através de processos de ingresso no Serviço Público. Alunos se sentem a vontade para desacatar quem os ensina e quando interpelados quando emitem frases racistas, sentem-se ”intimidados”.
Após ser questionado, o aluno explicou a frase racista: sua chapa para o DCE perdera a eleição e a vencedora – de “direita” - seria contra as cotas raciais! Ele, ao contrário, seria a “favor dos negros”, apesar de ter humilhado um deles ante meus dezesseis alunos presentes.
Um colega desse aluno, ao tomar sua defesa, estudante de jornalismo deu o veredicto final aos berros: eu não estaria entendendo a questão política envolvida naquela situação! Ao me identificar como especialista em relações interétnicas, irritou-se.
Entretanto, ao ler no site da UnB, matéria sobre as eleições no DCE, redigida por José Negreiros, da SECOM, afirmando ter ocorrido uma “derrota expressiva da esquerda”, fazendo suas as palavras de um anônimo “especialista em política estudantil” - que possui um conceito bastante duvidoso de “realidade” - é possível compreender o comportamento do aluno, seus colegas e professores que bradam palavras de ordem anacrônicas e infelizes.
A desobediência dos alunos diante das normas existentes tem sido contumaz, mesmo as mais simples regras de sociabilidade. O quadro se torna ainda mais drástico ao constatar que professores estimulam tais práticas: aqueles que tomam a realidade como uma luta maniqueísta entre o “bem” e o “mal”, estando eles no primeiro campo.
Falta de educação, permissividade, intolerância e autoritarismo vigem soltos, sem amarras. E então, mesmo aqueles que se dizem “de esquerda”, utilizando um discurso viciado, facilmente têm seu verniz progressista quebrado, para professar seu racismo.
* Doutora em antropologia social pela USP e com pós-doutorado em antropologia na Université Catholique de Louvain, na Bélgica, atualmente é professora na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB. Publicou: Ser negro no Brasil hoje; Educação e diversidade cultural – um desafio da atualidade
FONTE: http://www.afropress.com/colunistasLer.asp?ID=929
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